Introdução
O Futsal iniciou-se desde a criação da Federação Internacional de Futebol de Salão no Brasil em 1971. Apartir desta data o futsal foi conquistando o país, e em pouco tempo os continentes. O Futsal passou a ser praticado em todo o mundo, tendo só como diferenciação as habilidades de cada um praticante (LUCENA, 1998).
Quando o futsal passou a ser comandado pela FIFA houve uma expansão, sendo que mais de 160 países praticavam a modalidade, e não diferente desses países, o Brasil passou a ser o país do futebol e o Futsal passou a ser o esporte mais praticado no território brasileiro (BELLO JUNIOR, 1998).
Conforme Menezes (1998), nos últimos anos observa-se o crescimento exponencial do futsal, no contexto mundial. O Brasil destaca-se como o melhor do mundo, com isso o país que já era praticante da modalidade teve um crescimento extraordinário de interessados, principalmente crianças, com isso tornando-se uma das modalidades mais praticadas nas escolas brasileiras.
Existe uma série de transformações ou mudanças da estrutura física da criança na faixa de idade da iniciação no futebol, compreendida nas chamadas categorias menores de 07 á 13 anos de idade; fraudinha, dentinho e dente de leite (TAGLIARI, VIEIRA; 1996, FILGUEIRA; 2006).
A prática de atividades físicas e esportivas, atualmente é considerada essencial no desenvolvimento psicomotor do ser humano, sabe-se então a importância dessas atividades em crianças que estão começando a desenvolver-se. Observou-se a possibilidade de introduzir nas aulas de futsal jogos e brincadeiras que proporcionem um desenvolvimento de raciocínio rápido, que serão essenciais no objetivo de normalizar o comportamento motor da criança (LE BOULCH; 1982, SILVA, TASHIRO, SILVA; 2006).
De acordo com Chazuad (1976), a psicomotricidade é uma noção que procura, em suma, opor-se aos nossos habitos cartesianos de pensamento. Intenção e extensão se reencontram na organização histórica e funcional da única realidade do sujeito que é o corpo. Desta forma, desde as primeiras intervenções de reabilitação neuropsicomotora, pode-se observar bons resultados motores em crianças (RAMPOLDI, 2006), bem como melhoria na atenção (QUERNE et al; 2008).
O esquema corporal, a lateralidade, a estrutura espacial e a orientação temporal, são indispensáveis no desenvolvimento da psicomotricidade das crianças. A criança poderá ter um melhor rendimento na medida em que seu corpo trabalhe de acordo com o seu grau de raciocínio, podendo utilizá-lo não somente para movimentar-se, mas também para agir (Meur, 1991).
Bayer (1983) e Gomes (1991) aconselham que se utilize, nesta fase, vários exercícios de ordem coordenativa, lateralidade, ritmo, reação acústica,óptica, orientação espacial, temporal, apreciação das trajetórias, distâncias, velocidades e direções, poisestas capacidades permitirão ao aluno identificar a posição do corpo, ou segmento corporal em relação ao espaço, executar corretamente a sincronização do espaço temporal dos movimentos e reagir prontamente a um estímulo, e os mesmos autores recomendam que estes exercícios sejam desenvolvidos através de jogos de baixa para alta organização.
Segundo Tani et al (1988), Krebs (1992) e Gallahue (1993), em termos motores, a criança encontra-se na fase de estimulação, onde o domínio motor caracteriza-se pela definição dos movimentos fundamentais e início da combinação dos mesmos. No nível cognitivo Piaget (1973) relata que a criança encontra-se na fase das operações concretas, assim seu nível de pensamento abstrato é baixo.
A estrutura espacial, o equilibrio e a lateralização são essenciais para se obter a psicomotricidade, citando a lateralização é a capacidade que a criança tem de se locomover para os lados, tanto para o lado esquerdo quanto para o lado direito.. É o movimento que permite à criança encontrar um conjunto de relações; sujeito, as coisas e o espaço, necessárias em seu desenvolvimento motor, dando a condição à criança de aprender a perceber e a observar o vivido, o operatório e o mental (Ferreira Neto, 1999).
Todo ser humano é dotado de uns equipamentos sensoriais, que conduzem a informação perceptiva, por meio das vias motoras, ao cérebro e ao cerebelo, onde são decodificadas e consequentemente retornadas pelo sistema de resposta, por interferência dos núcleos da base. Assim fica possível a estruturação do espaço e do tempo, importantes no desenvolvimento da psicomotricidade da criança (Ferreira Neto, 1999). Já o hipotálamo tem importante papel na adaptação do comportamento ao estado fisiológico do organismo, juntamente com o sistema límbico atuam na repercussão emocional provocada pelos acontecimentos exteriores (LE BOULCH, 1982).
As crianças desenvolvem noções espaciais durante as aulas de futsal, através da movimentação de forma lúdica, na elaboração do conhecimento necessário para um ótimo desenvolvimento motor (Meur, 1991).
A aprendizagem da psicomotricidade a multilateralidade é essencial no futsal devido essa aprendizagem motora estar ligada a aquisição, aperfeiçoamento, estabilização, emprego e conservação das habilidades motrizes. No futsal o controle da decisão e o raciocínio rápido são essenciais para o desenvolvimento das habilidades motoras das crianças (Bello JÚNIOR, 1998).
De acordo com Bueno (1998), para uma evolução psicomotora é necessário que a criança tome consciência do contato com o solo e com a mobilidade da articulação do tornozelo para uma boa progressão do equilíbrio. Na prática do futsal durante as aulas de educação física a criança, independentemente do sexo, pode passar por essas fases durante a prática, que serão essências para a futura aquisição da psicomotricidade da mesma.
Durante o desenvolvimento normal, a criança passa por experiências sensório-motoras que facilitam a aquisição e o refinamento de padrões motores. Estas experiências acontecem e são enriquecidas graças à variabilidade e a complexibilidade do ambiente (Gibson, 1998). O controle dos movimentos é comandado pelo sistema nervoso que modula o sistema efetor de acordo com a intenção do individuo e com as informações sensoriais adquiridas do ambiente. Esse controle é responsável pelo equilíbrio e pela direção de movimentos. (GUyton, 1986).
Os movimentos naturais que surgem dos 7 anos em diante e o chamado geral ou transitório, aonde começa a aplicação e a combinação das habilidades motoras como chutar, correr e se equilibrar. Já a habilidade especifica vai de 11 a 13 anos, que envolve atividades mais complexas com estratégias e regras (Bello JÚNIOR, 1998). Porém, a força muscular pode ser incrementada com a prática de atividade física, independentemente da idade (DORÉ et al; 2000).
Material e métodos
O estudo pautou-se na pesquisa de campo – observacional e longitudinal. Dessa forma, foi realizada observação no periodo de 03 de março a 25 de setembro de 2007 e tendo como local uma escola privada na cidade de Itabaiana-Sergipe-Brasil. As crianças possuíam a faixa etária de 06 a 08 anos e estudavam 1ª e 2ª anos do Ensino Fundamental, foram 43 crianças, 23 do gênero feminio e 20 do gênero masculino submetidas a bateria de testes, no início do período de observação e no final, para verificar, no prazo estimado, o desenvolvimento da psicomotricidade através do futsal nas aulas de educação física escolar; com a permissão de seus pais, através de termo de consentimento livre e esclarecido.
As crianças foram divididas por faixa etária de 6, 7 e 8 anos, para a melhor analise do desenvolvimento. Foram aplicados testes práticos, depois de termos esclarecidos aos pais e as próprias crianças o objetivo do teste. Os testes aplicados foram de Equilibração, Lateralização, Noção do Corpo e Estruturação Espaço-Temporal, ultilizados em todas as faixas etárias, com base na bateria Psicomotora de Fonseca (1995), adequada e modificada para o futsal.
No intuito de observar o rendimento de qual gênero se saiu melhor, através de gráficos e da análise qualitativa com o teste qui-quadrado, no qual adoutou-se 0,05 ou 5% do nível de reijeição da hipótese de nulidade.
Resultados e discussões
Na Figura 1, no que se diz respeito a Equilibração, os meninos se sobressaíram e tiveram uma maior porcentagem em relação as meninas, os meninos nos aspectos bom: 33% e satisfatório: 66:60% tiveram melhor desenvolvimento do que as meninas, que por sua vez superou os meninos no satisfatório com: 100%, já em relação ao Excelente e ao Fraco ouve um padrão para ambos os sexos de 0%. Isso na faixa etária de 6 anos, o qual apresentou qui-quadrado igual a 38.077 e p= 0,001, que demonstra diferença significativa entre os gêneros para os 6 anos de idade.
Figura 1. Distribuição da Equilibração segundo a idade e gênero
Ex= excelente, B= bom, S= satisfatório e F= fraco
Nos resultados das crianças de 7 anos encontramos meninos com maior porcentagem sobre as meninas no melhor aspecto do teste, eles tiveram nos aspecto Excelente: 16,60% e no Bom: 49,90%, já as meninas superam os meninos no aspecto Satisfatório: 44,40% e no Bom: 55,50%, no teste qui-quadrado igual 55.873 e p= 0,001, sendo significativa a diferença entre os gêneros nessa idade. Dando a perceber que motivação da parte das meninas não falta, o que falta é o incentivo à modalidade tanto dos pais, como escolas e colégio. Para com isso elas possam adquirir habilidades motoras essências tanto para as praticas quanto para o dia-dia. Já nos outros aspectos houve um equilíbrio ambos os gêneros.
Já nas crianças com a faixa etária de 8 anos, os resultados encontrados foram que o sexo masculino obteve no aspecto Excelente: 16,60%, no Bom: 75% e no satisfatório: 8,30%, já as meninas caíram a porcentagem comparada a outras faixas etárias e subiu o aspecto fraco: 9%, apresentando o qui-quadrado 36.892 e p= 0,001, ou seja, com diferença significativa nesta idade para a equilibração. Com esses dados percebe-se que crianças do gênero feminino com a idade de 8 anos não estão participando das praticas esportivas nas escolas, e sim supostamente assumindo o papel de dona de casa e assim deixando de ganhar habilidades motoras.
Na Figura 2, nos resultados sobre lateralização, observam-se as vantagens percentuais dos meninos em relação às meninas. Os meninos obtiveram no aspecto Bom: 67% e no Satisfatório: 33%, já as meninas tiveram um bom desempenho no aspecto Satisfatório: 67% mais teve amento no aspecto Fraco: 33%. Isso na faixa etária de 6 anos, no qual obteve 74.975 de qui-quadrado e p= 0,001, ou seja, com diferença significativa entre os gêneros.
Figura 2. Distribuição da lateralização segundo a idade e gênero
Ex= excelente, B= bom, S= satisfatório e F= fraco
Já nos 7 anos, a figura acima mostra resultados que as meninas superaram os menino tanto no aspecto Bom: 55,50% quanto no aspecto fraco: 0%, deixando que os meninos aumentassem a porcentagem do aspecto fraco: 17%, e nos outros aspectos há um certo equilíbrio ambos os gêneros, com o teste qui-quadrado 1.661 e p= 0,46, que conota não haver diferença estatisticamente perceptível.
Com as crianças de 8 anos, os meninos obtiveram Bom: 83% e as meninas elevaram o aspecto Fraco: 9% e os outros aspectos ficaram parcialmente nivelados. Com esses resultados dos testes mostram que os meninos com a faixa etária de 8 anos se sobressaem em relação as meninas com a mesma faixa etária, confirmada p= 0,001, num qui-quadrado de 44.792.
Os dados da Figura 3 em relação a Noção do Corpo, os meninos com a faixa etária de 6 anos obtiveram um percentual no aspecto Bom: 33% e com a mesma proporção percentual as meninas obtiveram no aspecto fraco: 33%, já nos outros aspectos como mostra o gráfico acima, os percentuais estão nivelados. Na análise estatística para 6 e 8 anos obteve-se p= 0,001 e p= 0,016, respectivamente. Desta forma, com diferenças significativas entre os gêneros. Contudo, para 7 anos obteve-se p= 1, ou seja, que os grupos foram iguais para a noção corporal.
Figura 3. Distribuição da noção do corpo segundo a idade e gênero
Ex= excelente, B= bom, S= satisfatório e F= fraco
Em relação às crianças de 7 anos, a figura acima mostra uma igualdade nos percentuais nos aspectos satisfatório e Bom ambos os dois com 50% tanto para meninas quanto para meninos. Já os outros aspectos estão em porcentagem parecidas.
Já com as crianças de 8 anos, os meninos superam as meninas. Os meninos obtêm Bom: 75%, enquanto as meninas no aspecto Fraco: 19%, com isso elevando o nível mais baixo. Já nos outros aspectos segue uma nivelação entre meninos e meninas.
Resultados da Figura 4 o último no que diz respeito a Estrutura Espaço-Temporal, mostra uma igualdade no aspecto Bom: 67% ambos os sexos, e uma vantagem percentual a nível de Excelente: 33% para os meninos. Já nos outros aspectos as meninas só superam os meninos no Satisfatório: 33%, em relação a Fraco: 0% ambos os gêneros. Isso com a faixa etária de 6 anos.
Figura 4. Distribuição da estruturação espaço-temporal segundo idade e gênero
Ex= excelente, B= bom, S= satisfatório e F=fraco
Os valores apresentados na Figura 4, da faixa etária de 7 anos mostrados no gráfico acima são: meninos Excelente: 33% superando as meninas. Já as meninas no aspecto Bom: 67% e Satisfatório: 33%, superam os meninos. Já em relação a o outro aspecto como mostra o gráfico a igualdade.
Já os resultados encontrados nas crianças de 08 anos são: 58% Excelente para os meninos, e para as meninas um aumento em relação a eles nos aspectos Bom: 73% e Satisfatório: 18%, mais há um aumento brusco no ultimo aspecto o Fraco: 100%.
Durante a Bateria Psicomotora, o gênero masculino obteve um grau de desenvolvimento melhor que o gênero feminino durante todas as atividades, com a realização da bateria de forma controlada e adequada, principalmente o gênero masculino de 08 anos. Vale ressaltar que estes, já praticavam a modalidade desde os 06 anos. Notou-se que os alunos de 06 e 07 anos tiveram maior dificuldade devido a estarem ingressando ao futsal neste ano, sendo que vários conseguiram já desenvolver com um bom controle as atividades, mostrando que o futsal trabalhado de forma contínua, contribuirá para o desenvolvimento desta.
Contudo para as três idades 6, 7 e 8 anos, obteve-se p= 0,01, sendo, portanto, significativa a diferença entre os grupos. A diferença estatística é interpretada, neste estudo específico, como resultante da aquisição de habilidades neuro-psicomotoras pelo grupo que iniciou a prática da modalidade esportiva mais precocemente, 8 anos. Pois, as diferenças entre os grupos eram esperadas, sob o aspecto idade. No entanto, proporcionalmente à idade, as diferenças entre os grupos de 6 e 7 anos são bem menores quando comparados os grupos 7 e 8 anos.
Nos testes percebeu-se que o gênero feminino não obteve um bom desempenho quanto o masculino devido não sofrer influência dos pais em relação à modalidade de futsal na infância, uma vez que sentiram prazer em realizar as determinadas atividades e gostariam de praticá-las mais vezes. Supõem-se com isso, que ainda nos dias de hoje existe, por parte de algumas famílias, o preconceito de que meninas na sua fase de aquisição de habilidades não podem praticar o futsal devido ser esporte “para meninos”.
Já as próprias crianças disseram que seus pais não deixariam porque o futsal é esporte para homem e que elas ficariam com o corpo com traços masculinos, saindo assim dos padrões impostos pela sociedade.Verificou-se que a prática do futsal deveria contemplar tanto meninos quanto meninas no desporto, respeitando-se suas limitações e sua maturação, de forma harmoniosa e lúdica favorece o desenvolvimento psicomotor da criança.
Conclusão
Na análise dos resultados desta pesquisa observou-se que na bateria de testes aplicados para as crianças participantes de ambos os gêneros, percebeu-se a superioridade dos meninos em relação às meninas nos aspectos avaliados durante a pesquisa.
Neste estudo em específico, a partir da leitura dos gráficos, pode-se constatar, que apesar da superioridade dos resultados masculinos em relação aos femininos, houve o desenvolvimento em ambos os gêneros, no período de testes, observando-se assim que a prática do futsal nas aulas de educação física escolar ajuda na aquisição de habilidades motoras, consequentemente no desenvolvimento da psicomotricidade infantil.
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